segunda-feira, 11 de julho de 2011

Falsos taxistas ameaçam clientes e são investigados

Vítimas e donos de táxis regularizados denunciam coação e cobranças de corridas até cinco vezes mais caras na Zona Norte
POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Uma quadrilha de falsos taxistas, que seria ligada a milicianos, está na mira da polícia na Zona Norte do Rio. O bando age de dia, principalmente em Madureira e Campinho. Uma das bases do grupo é nas proximidades do Mercadão de Madureira, na Av. Edgar Romero, por onde circulam diariamente 80 mil pessoas. Os alvos dos bandidos, que criam seus próprios pontos, ameaçando de morte profissionais legalizados, são idosos, gestantes, mulheres com crianças e deficientes físicos.

Pelo menos 12 placas de veículos suspeitos de pertencerem à máfia estão sendo investigadas pela 28ª DP (Campinho). Três delas — um Meriva, um Santana e um Corsa —, foram flagradas por O DIA segunda e terça-feira, fazendo transporte de passageiros na região.
Pintados de amarelo, mas sem a faixa azul obrigatória nas laterais, os veículos não são cadastrados na Secretaria Municipal de Transportes. Segundo vítimas, os falsos profissionais cobram o preço que querem, dependendo do perfil do passageiro. Corridas que custam em torno de R$ 12, por exemplo, ficam até cinco vezes mais caras. Quem se recusa a pagar, é ameaçado.

Terça e quarta-feira, carros investigados ocupavam o estacionamento da Maternidade Herculano Pinheiro, do outro lado da calçada do Mercadão, a menos de 50 metros da 29ª DP (Madureira). Ali, segundo taxistas legalizados, eles fixaram ponto clandestino. O aliciamento de passageiros, conforme a polícia, é feito por homens com coletes com a inscrição ‘Mercadão de Madureira’.

“Quem sai com compras do mercadão, é abordado. Até motoristas de carros particulares sem pintura amarela atuam. Nós, legalizados, somos ameaçados por eles”, diz X., 49.

Falso taxista, sem carteira de habilitação, foi preso após ameaçar passageira

No dia 28 de junho o esquema dos falsos taxistas começou a ser desmontado com a prisão de José Lopes de Andrade, 50 anos, por policiais da 28ª DP (Campinho). Analfabeto e com passagens pela polícia — uma delas em 2001 por roubo a passageira —, ele foi detido depois de ameaçar uma empresária.

“Faço sempre o trajeto do Mercadão de Madureira a Praça Seca e nunca a corrida passou de R$ 12. Ignorando o taxímetro, ele (Andrade) me cobrou R$ 25. Questionei o valor e ele me ameaçou, dizendo que era bandido e que sabia onde eu morava. Não hesitei em denunciá-lo”, diz Y., 42.

Andrade confessou que atuava há 20 anos como falso taxista, sem nunca ter tido habilitação. “Acreditamos que ele seja um dos cabeças dessa organização criminosa”, ressalta o delegado da 28ª DP, Reginaldo Guilherme. Por ameaça, receptação e exercício ilegal da profissão, Andrade pode pegar mais de 10 anos de prisão.

Indícios de pagamento de propina para policiais

Investigações conduzidas pelo delegado Reginaldo Guilherme apontam para a suposta participação de milicianos no esquema de Madureira. O bando é suspeito de pagar propinas, entre R$ 10 a R$ 50 de cada falso taxista, por semana, para policiais civis e militares, e guardas municipais, que fazem ‘vista grossa’ para circular livremente e ser avisado com antecedência sobre blitzes.

Em 11 de abril, investigadores da 28ª DP prenderam o pintor Cristiano Silva dos Santos, 35, dirigindo o táxi LOH-5511, um Uno amarelo e sem registro na secretaria.

“Cristiano afirmou que o carro era de policial do 15º BPM (Caxias). Percebemos que sempre tem um policial por trás dos falsos taxistas”, comentou o delegado. Sem habilitação, Cristiano revelou que dava R$ 300 por semana ao PM. “Se eu fosse flagrado, deveria acioná-lo para ‘desenrolar’ com fiscais”, teria dito na 28ª DP.

Em três anos, 1,5 mil veículos irregulares retirados das ruas

O presidente do Sindicato dos Taxistas do Rio, José de Castro, garante que, segundo levantamento da entidade, cerca de 1.500 falsos taxistas já foram retirados de circulação nos últimos três anos pela polícia e durante operações da Subsecretaria de Fiscalização (SubF) da Secretaria Municipal de Transportes. “Graças a denúncias de passageiros e de taxistas legalizados, os piratas estão sendo combatidos”, afirmou Castro, lembrando que os falsos podem ser denunciados pelos telefones 2286 - 8010 (da SMTR) ou pelo 0800-282-3040 (Instituto de Pesos e Medidas-Ipem).

Desde o ano passado, a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis também vem fechando o cerco aos taxistas piratas e cooperativas fantasmas. Em apenas seis meses, a especializada chegou a apreender 112 táxis e fechar nove empresas de fachada no ano passado.

O delegado titular da DRFA, Márcio Mendonça, alerta ainda que alguns táxis piratas costumam ser usados por estupradores, assaltantes e para entregar drogas em residências de viciados.

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